Amortecedores inteligentes: tudo o que você precisa saber sobre essa tecnologia

Amortecedores inteligentes: tudo o que você precisa saber sobre essa tecnologia

janeiro 22, 2019 Off Por Fernando Naccari

Mais do que um carro que beba pouco combustível, ou que tenha desempenho acima da média, o conforto a bordo é praticamente unanimidade entre todos os ocupantes de um veículo.

Se o carro gasta muito combustível, mas em contrapartida é confortável, você acaba relevando este empecilho em prol da comodidade. O mesmo acontece quando o desempenho não é dos melhores, mas o veículo faz com que os ocupantes cheguem ao destino como se estivessem viajado em um confortável sofá.

Claro, um conjunto de bancos com o amortecimento adequado é fundamental para isso, mas posso afirmar que um bom projeto de suspensão é mais do que 75% responsável por este efeito.

DRiV foi desenvolvido especialmente para o segmento de veículos leves.

Alguns sistemistas trabalham há anos no desenvolvimento de tecnologias que combinem o conforto do conjunto à esportividade (efeitos completamente diferentes quando falamos em dinâmica de direção), e uma solução foi encontrada e está sendo amplamente empregada nos veículos atuais: os amortecedores inteligentes.

Dual Mode é direcionado para modelos compactos, unindo conforto e um rodar mais esportivo.

A Monroe, empresa líder no desenvolvimento e fabricação de amortecedores, fornece componentes originais para as montadoras com esta tecnologia e, em breve, este componente deve chegar ao seu veículo (caso você já não tenha um instalado em seu veículo).

Para esclarecer sobre esta tecnologia e até algumas novidades, como o de amortecedores que armazenam energia (principalmente para veículos elétricos), entrevistamos Juliano Caretta, Supervisor de Treinamento Técnico da Tenneco.

Fernando Naccari: A tecnologia de amortecedores, ou mesmo de uma suspensão inteligente é antiga, haja visto que temos vídeos de alguns testes com este tipo de conjunto em carros e até na Fórmula 1 no início dos anos 90, mas para o brasileiro, isso ainda é muito novo. No caso da Monroe, quando vocês lançaram o primeiro amortecedor inteligente no mercado?

Caretta: O primeiro amortecedor inteligente Monroe lançado no mercado foi em 2002. Desde então, a Monroe investe intensamente no desenvolvimento e ampliação dessa linha de produtos por todo o mundo. Até o momento, já foram comercializados mais de 5 milhões de amortecedores eletrônicos e, atualmente, fornecemos esse equipamento original para aproximadamente 50 modelos de veículos diferentes.

Naccari: O amortecedor é peça fundamental na dinâmica de um veículo e, quando avariado, afeta na segurança dos ocupantes, principalmente em curvas. No caso dos amortecedores inteligentes, como eles funcionam para propiciar essa segurança aos ocupantes?

Caretta: Amortecedores inteligentes trabalham para oferecer a melhor dirigibilidade, combinando conforto, estabilidade e segurança. Sensores instalados no veículo monitoram as condições de rodagem e enviam essas informações à unidade de controle eletrônico (ECU). Depois de realizar o gerenciamento dessas informações, a ECU envia um comando aos amortecedores para que os mesmos se ajustem conforme a necessidade de rodagem, assegurando a melhor segurança do veículo. Além disso, nas curvas, o sistema eletrônico dos amortecedores controla a inclinação da carroceria, evitando que o veículo incline excessivamente para um dos lados.

CVSA2 dispensa barras estabilizadoras, reduzindo o peso do veículo.

Além de a ECU operar a carga de amortecimento necessária em cada amortecedor individualmente em tempo real, a tecnologia Tenneco para suspensão semi-ativa ou ativa prevê um modo de falha denominado “fail safe”. Seu objetivo é colocar todo o sistema de suspensão em um estágio intermediário de amortecimento em caso de pane elétrica, sendo um sistema de redundância que irá manter a segurança do veículo em qualquer condição.

Naccari: Há um método comparativo em que a gente possa dizer quanto à durabilidade de um amortecedor inteligente frente a um comum?

Caretta: Em geral, sistemas de suspensão semi-ativo ou ativo possuem maior durabilidade – entende-se que, numa condição em que o sistema de amortecimento é configurado para um nível maior de conforto, o sistema de suspensão como um todo trabalha menos, ao passo que um amortecedor comum trabalharia mais em tais aspectos. No entanto, não há um método comparativo que mostre a diferença na durabilidade dos produtos.

Tecnologia CVSAe está presente no Volvo XC40.

Temos que considerar que a vida útil dos amortecedores está diretamente relacionada às condições de utilização. Testes realizados pela Monroe mostram que um amortecedor se movimenta, em média, 2.600 vezes por quilômetro rodado. Sendo assim, a cada 40 mil quilômetros, a peça se movimenta aproximadamente 104 milhões de vezes, o suficiente para provocar o desgaste da mesma.

Atualmente, a Monroe investe em pesquisa para a utilização de materiais mais resistentes, com o objetivo de aumentar a durabilidade dos amortecedores. A empresa também investe em novas tecnologias para tornar as peças mais sensíveis aos impactos e vibrações. Porém, essa maior sensibilidade resulta em um número maior de movimentações e, consequentemente, maior desgaste. O desafio da Monroe é equilibrar todas essas variáveis e oferecer produtos com mais qualidade e tecnologia.  

Naccari: A Monroe ainda não tem estes itens para o mercado de reposição independente, mas fornece-os para algumas fabricantes como item original. Poderia citar algumas marcas e modelos?

Caretta: A Monroe fornece o equipamento original para os principais veículos equipados com essa nova tecnologia, incluindo modelos das montadoras Volvo, Audi, BMW, Mercedes-Benz, Ford, Volkswagen e Renault.

Tecnologia CVSA2 está presente no Mercedes-Benz Classe G.

Naccari: Ainda falando em amortecedores inteligentes, sei que vocês estão trabalhando para que os amortecedores também possam se tornar peças vitais no armazenamento e recarga de baterias de veículos elétricos. Há um prazo para que esta tecnologia chegue aos veículos?

Caretta: Na verdade, essa tecnologia já está desenvolvida e a patente já foi registrada pela Monroe. A próxima etapa é que as montadoras desenvolvam nos veículos a tecnologia para receber essa energia produzida pelos amortecedores e que a mesma contribua para o perfeito funcionamento do veículo.

Sistema ACOCAR permite maior controle do movimento da carroceria e das rodas.

Ainda não há um prazo definido para que ela seja empregada, mas acreditamos que, em função da evolução tecnológica no segmento automotivo, ela chegará ao mercado muito em breve.

Naccari: Caso o leitor tenha um veículo com este tipo de amortecedor, quais são as dicas para que ele prolongue a vida útil do componente?

Caretta: Os cuidados para prolongar a vida de um amortecedor eletrônico são os mesmos de qualquer tipo de tecnologia de amortecedor. A recomendação principal é andar com velocidade reduzida por vias irregulares e em más condições de conservação. Além disso, evitar qualquer adaptação ou alteração das características originais do veículo, pois todos os componentes da suspensão foram desenvolvidos conforme a configuração da montadora. Por fim, orientamos respeitar o limite de peso e distribuí-lo de forma regular no porta malas ou bagageiro, o que contribui para aumentar a durabilidade das peças.

Fernando Naccari: Já, no caso dos mecânicos, na hora da troca, há alguns cuidados diferenciados na hora da substituição desta peça, como programação via scanner, por exemplo?

Caretta: Na instalação dos amortecedores, o primeiro cuidado é verificar a aplicação para garantir que se trata a peça correta, desenvolvida seguindo rigorosamente as características do veículo. Como os amortecedores inteligentes Monroe foram desenvolvidos em parceria com as montadoras, não é possível utilizar um produto de outra marca em substituição ao Monroe original, uma vez que há uma codificação específica do sistema usando logaritmos. Ou seja, se o projeto original utiliza Monroe, na reposição, será possível utilizar somente outro produto Monroe.

Também é preciso ter atenção com o encaixe dos sensores, evitando que sejam danificados ou mal conectados na montagem. Na troca, não é necessária a utilização de scanner ou qualquer sistema para programar os amortecedores novos, pois os mesmos são auto programáveis, com reconhecimento automático dos diferentes logaritmos de ajustes.

Fotos: Monroe