Ser piloto no Brasil é mais difícil que ganhar na loteria

novembro 1, 2017 Off Por Fernando Naccari

Ao contrário do que ocorre com a grande maioria dos países e mesmo tendo como um dos principais ídolos do esporte um piloto (Ayrton Senna), o Brasil não é o país “das quatro rodas”. É duro afirmar isso, mas infelizmente é uma realidade comprovada pela própria empresa detentora dos direitos de transmissão da Fórmula 1 por aqui, que deixou de transmitir uma corrida determinante para o título da temporada de 2017 para passar uma partida de futebol, que não era decisiva para o campeonato.

Com isso, ser piloto no Brasil e depender de patrocínios e exposição para seguir carreira, talvez seja uma missão mais difícil do que acertar as seis dezenas do sorteio. De acordo com a Caixa Econômica Federal, um jogador da Mega tem uma em 50.063.860 chances de ser milionário, já o piloto sequer tem um métrica para poder se basear. A única certeza é de que precisa de dinheiro. Muito dinheiro.

Em decadência

O drama se estende quando olhamos para a Fórmula 1 e vemos um Felipe Massa que não consegue atingir mais resultados significativos, seja por não ter mais o “tesão” na disputa ou pela falta de um carro competitivo, mas isso não vem ao caso. Mesmo quando ele disputava o título, em 2009 as coisas não eram muito diferentes em termos de público.

‘Despedida’ em 2016 foi sob forte emoção – Divulgação

A grande verdade é que o brasileiro ficou mal acostumado com Ayrton Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi. A ‘quase’ certa vitória aos domingos de manhã nos deixou com a sensação de que quem não é primeiro, não importa, quando na verdade, alcançar vôos desta magnitude em um esporte tão mal apoiado em nossas terras já é uma grande vitória.

Mas ao contrário do que a mídia de massa divulga, ao redor do mundo os brasileiros tem conquistado títulos importantes. A Fórmula E é o maior exemplo disso: em três anos de disputa, o Brasil tem dois títulos conquistados com Nelsinho Piquet (na temporada inaugural) e Lucas di Grassi (neste ano). Curiosamente, ambos tiveram vida curta na Fórmula 1. No caso de di Grassi, a saída repentina após um ano na equipe Virgin foi pura e essencialmente financeira (vamos chegar nesse assunto logo mais). Já para Nelsinho Piquet o problema foi outro, mas não vem ao caso.

Por falar em di Grassi, o piloto da Audi na Fórmula E e no WEC foi indicado ao prêmio de melhor piloto do ano, ao lado de Lewis Hamilton e Fernando Alonso, por exemplo, com mais cinco profissionais indicados à honraria.

Em categorias de acesso, o maior destaque do Brasil é o jovem Matheus Leist, cotado para assumir o carro da AJ Foyt ao lado do experiente e também brasileiro, Tony Kanaan para a temporada de 2018 da IndyCar, após uma excelente primeira temporada na Indy Lights. É nossa maior expectativa por um brasileiro promissor no esporte a motor.

Chegar lá, não é fácil

A justificativa que se dá para a falta de interesse do brasileiro para acompanhar o esporte é a falta de ídolos, mas a verdade é que quem tem essa oportunidade, acaba sendo ofuscado pela falta de dinheiro para patrocínios milionários e, os novos prováveis ídolos, deixam de atingir o topo pelos mesmo motivos. Ou você acha que no Brasil não surgiram alguns ‘Lewis Hamilton’ que deixaram a carreira para apostar em uma “vida normal” por falta de dinheiro?

Um exemplo disso é o gaúcho Walter Aveiro, piloto de 20 anos e que batalha para seguir o sonho de ser piloto profissional.  Apaixonado pelo esporte desde os 13 anos, viu na Fórmula 1 seu maior sonho, mas sofre com a falta de incentivos para alçar vôos mais altos.

“Conforme os anos passaram, percebi o quanto é pouco valorizado o automobilismo no Brasil e o quão difícil e caro é esse esporte. Hoje, possuo um kart que foi comprado com todos os sacrifícios do mundo, e mesmo não sendo o mais moderno e nem o que tem as melhores peças, me esforço muito e consigo marcar tempos muitas vezes iguais aos de pilotos com equipamentos muito superiores ao meu”, revelou o jovem.

Walter, assim como uma grande parcela de brasileiros, brigam com seus próprios recursos para realizar o sonho de ser piloto

Insistir no sonho, muitas vezes, é uma batalha de uma vida inteira. Walter concilia ainda sua vida nas pistas com a de estudante de direito na PUC/RS, onde é bolsista e a de mecânico na oficina do pai. “Eu já pensei várias vezes em desistir desse sonho, mas algo sempre me diz para continuar, porque acredito no meu potencial e que irei chegar lá um dia. Para dar um passo importante em direção a isso, preciso mudar de categoria e ir competir no ‘Marcas e Pilotos do RS’, mas não tenho recursos para tal. Preciso fazer isso, pois o kart é pouco valorizado aqui no sul e não há uma progressão de carreira. No kart, por incrível que pareça, na média, é mais caro para competir durante um ano”, explicou Walter.

Foto: Marcas e Pilotos RS/ Divulgação

Para dar sequência a esse sonho, Walter Aveiro criou uma “Vakinha” na internet, onde busca os recursos financeiros para essa migração. Quem puder colaborar, acesse https://www.vakinha.com.br/vaquinha/me-ajude-a-ser-piloto. Já os interessados em patrocinar o jovem piloto, Walter deixou o telefone de contato (51) 99815-6893.